História

História

Com os seus mais de 60 anos de existência, e a forma como os seus fundadores se encontravam ligados aos primórdios do aeromodelismo em Portugal, é praticamente impossível fazer a história do Clube de Aeromodelismo de Lisboa sem a entrosar com a do próprio aeromodelismo nacional.

Pode-se considerar que o aeromodelismo, em Portugal, nasceu em 1907, em consequência dos primeiros trabalhos concretos de João Gouveia, o qual, com a ajuda de um seu amigo, D. Tomás de Almeida, construiu, em 1909, um “voador mecânico biplano”, numa oficina da Rua António Pedro, em Lisboa. Dos factos existem registos fotográficos, quer durante a fase de construção, quer em voo.

João Gouveia (à direita), com D. Tomás de Almeida, na oficina da Rua António Pedro.

Pode-se considerar que o aeromodelismo, em Portugal, nasceu em 1907, em consequência dos primeiros trabalhos concretos de João Gouveia, o qual, com a ajuda de um seu amigo, D. Tomás de Almeida, construiu, em 1909, um “voador mecânico biplano”, numa oficina da Rua António Pedro, em Lisboa. Dos factos existem registos fotográficos, quer durante a fase de construção, quer em voo.

Em 1937, surge no Porto um agrupamento de aeromodelistas que, liderados por Ricardo de Sousa Lima, fundam a Liga de Iniciação e Propaganda Aeronáutica (LIPA.).

O mesmo Ricardo de Sousa Lima foi o grande impulsionador da introdução do Aeromodelismo na Mocidade Portuguesa, tendo publicado, em 1944, o primeiro Manual de Aviominiatura.

A História não pode ser alterada nem deve ser escamoteada. Na data de hoje e já sem paixões políticas, justo é realçar, de forma objectiva, o papel que o Estado Novo teve na criação de uma “mentalidade aeronáutica“, o  que se traduziu no apoio dado  aos centros de instrução de aeromodelismo da Mocidade Portuguesa  (MP)  e pelo papel interventivo da Direcção-Geral da Aeronáutica Civil (DGAC) que, com cursos de formação de instrutores e a atribuição de subsídios financeiros, muito contribuiu para o desenvolvimento do Aeromodelismo em Portugal.

No Diário do Governo de 28 de Janeiro de 1946 (I série), foi publicado o Decreto-Lei 35:473, regulando a criação de “aeroclubes e organizações desportivas que tenham como finalidade a prática do aeromodelismo ou da aviação com ou sem motor

João Gouveia com o seu “voador mecânico biplano”.

Na Casa da Mocidade de Lisboa, na Rua Miguel Lupi, foi criado um Centro Técnico de Aeromodelismo, onde se realizaram cursos de instrutores. Nesta época, por volta de 1950, Joaquim Mendonça Raimundo, José Carlos Rodrigues, António Janeiro, Abílio Matos, António Bento, entre outros, muito contribuíram para o desenvolvimento da modalidade, dando cursos e desenvolvendo planos e técnicas de génese nacional.

Foi ainda com o patrocínio do Serviço de Publicações da MP que, em 1964, foi dado à estampa um livro denominado “Aeromodelismo”, da autoria de José Carlos Rodrigues, profusamente ilustrado com fotos e desenhos do autor e de António Barata, grande artista gráfico e aeromodelista de grande mérito em acrobacia de voo circular.

Esta obra ainda hoje constitui um manual de referência onde, a par das técnicas de construção ditas “tradicionais”, se encontram as teorias básicas da aerodinâmica e do voo em geral.

Também lá consta uma parte da história do Aeromodelismo em Portugal, donde, com a devida vénia e respeito pelo Autor, se extraíram alguns dos elementos deste trabalho histórico.

Emblema original do C.A.L.

O C.A.L. fundou-se formalmente em 26 de Setembro de 1952, mercê de esforços de toda a ordem que um grupo de dedicados fundadores entendeu e conseguiu levar a bom termo.

A oficialização do C.A.L. foi confirmada no Diário do Governo de 6 de Outubro de 1952 (III série), mediante um despacho da Direcção-Geral da Aeronáutica Civil.

A DGAC apoiou financeiramente, não só nesses primeiros passos mas também nos seguintes, ajuda indispensável, sem a qual não seria possível ao C.A.L. atingir o nível a que ascendeu.Alguns meses depois, quando da realização do IV Campeonato Nacional, o C.A.L. enviou ao Porto seis aeromodelistas, os quais, das seis provas que o Campeonato incluía, ganharam cinco primeiros prémios e dois segundos. 

A proeza tornou o C.A.L. conhecido e, de certo modo, concedeu-lhe o prestígio de que necessitava para iniciar carreira. Rapidamente o Clube lisboeta, que havia sido fundado por Armindo Filipe, Carlos Rodrigues e Abílio Matos, impôs-se no meio aeromodelista português.

A primeira grande realização do C.A.L. foi a organização do I Campeonato de Lisboa, levado a efeito na base militar de Alverca, em 24 de Maio de 1953. Organizado em moldes novos, constituiu excelente jornada aeromodelística e proveitosa demonstração às entidades oficiais, que se dignaram assistir, e ao numeroso público que os organizadores souberam levar a Alverca.

Em 1954, o C.A.L. instituía um trofeu para o “melhor aeromodelista do ano”, sócio daquela colectividade, com o intuito de estimular o interesse pelas quatro mais importantes categorias: planadores, “borrachas”, motomodelos, e velocidade. O trofeu foi atribuído a António Bento.

No final desse mesmo ano, deslocava-se a Madrid a primeira representação oficial de aeromodelistas ao estrangeiro, constituída por Mendonça Raimundo, António Bento e Carlos Rodrigues, que se faziam acompanhar do seu colega nortenho, Artur Sereno.

O final de 1955 ficou assinalado pela realização do I Campeonato Ibérico, cuja equipa portuguesa, constituída por elementos do C.A.L., soube, apesar de vencida, colocar-se em posição de destaque, perante adversários assaz conhecedores de todos os segredos da competição.

O boletim “Aeromodelismo”, que o C.A.L. começou a publicar em 1954 mas que só no ano seguinte atingiu um nível aceitável, constituiu excelente meio de difusão das novas técnicas. Primorosamente copiografado inseria aquele boletim artigos técnicos sobre os assuntos de mais interesse para a actividade, relatos de provas, notícias, planos, etc.

Em 1957, o grande evento foi a realização da I Quinzena de Aeromodelismo. Consistiu esta organização numa cerrada campanha de propaganda do Aeromodelismo, ao nível nacional, por meio de distribuição de muitos milhares de folhetos, nos quais se evidenciava o valor do Aeromodelismo como “magnífico desporto de ar livre e excelente escola de formação do homem de amanhã”, de cartazes publicitários, de palestras, entrevistas, reportagens e notícias na Imprensa e na Rádio. Houve também uma exposição no Palácio Foz, acompanhada de demonstrações diárias na Pista da Portela.

Inauguração da I Quinzena de Aeromodelismo, no SNI, vendo-se Carvalho Marques (à esquerda) e José Carlos Rodrigues (em primeiro plano) apresentando o modelo da “Super Fortaleza Voadora” Boeing B-29, que foi expressamente construído para aquele evento. À direita, o Brig. Fernando Oliveira, que foi director das OGMA.

No Porto, foram levadas a efeito demonstrações de voo circular e, em muitas outras localidades se fizeram também, por intermédio das escolas existentes da Mocidade Portuguesa, demonstrações e muita publicidade, especialmente em Coimbra, Viseu, Braga, Setúbal e Beja.

A organização em Lisboa ocupou os recursos de 26 aeromodelistas, uns executando modelos em série para as demonstrações, outros preparando os materiais, painéis e modelos para a exposição no SNI (Palácio Foz), trabalhando outros, ainda, em palestras e entrevistas a difundir pela Rádio, artigos e notícias a publicar na Imprensa, etc. 

A bem evidenciada capacidade de realização que o C.A.L. demonstrou, ao levar a cabo, com sucesso, a I Quinzena de Aeromodelismo, causou admiração generalizada.

Para além do já referido grupo fundador, são ainda credores de merecido destaque, na história do C.A.L., os nomes de António Bento, Carvalho Marques, Viriato de Carvalho, António Barata, Fernando Simões, António Castro, Ernâni Ferreira, António Janeiro, Avelino Lopes, João Silva, Vieira Lopes, Vasco de Carvalho, Elias Silva.

Numa segunda geração de aeromodelistas, que assumiu os destinos do C.A.L., destacaram-se nomes como João Pereira da Costa, José Colarejo, Carlos Jorge, Fernando Teixeira, Pereira Lima, Fernando Coelho, Loureiro de Sousa, Ruy Miranda, António Cruz, Júlio Isidro, Condeço Marques, entre outros.

Em 1967, é de realce a realização conjunta, com o Aero Clube de Portugal, do XVIII Campeonato Nacional de Aeromodelismo,  cujas provas de Voo Livre decorreram no aeródromo de Évora, tendo as de Voo Circular sido realizadas na pista da Portela.

Esta prova assinalou um ponto alto da época, pois, só em Évora, foi possível reunir mais de uma centena de concorrentes.

O Boletim do CAL n.º 28, de 1967, relata esse evento, bem como a participação do C.A.L., com um stand de exposição, na Nauticampo I, realizada na FIL.

Capa do Boletim n.º 28, mostrando Altamiro Rodrigues (L.I.P.A) durante as provas do XVIII Campeonato Nacional.

Em tempos mais recentes, o C.A.L. veio a enfrentar novos desafios e, para além da presença de alguns elementos da “velha guarda”, contou com elementos que poderemos chamar de terceira geração, onde devem ser realçados nomes como Mendes dos Santos, Paulo Allen, Gomes da Costa, António Janeiro (filho), Marcos Fernandes, Manuel Reis, entre outros.

No virar do século, e embora com um número significativo de associados e praticantes inscritos, o C.A.L. veio, sobretudo, a enfrentar dificuldades a nível de constituição de órgãos sociais. Efectivamente, tem sido cada vez mais difícil “aliciar” elementos para o trabalho de “secretaria”. Os novos associados, na sua maioria, revelam-se mais interessados na prática lúdica do aeromodelismo, em detrimento da competição, do que resulta também algum desinteresse pelas práticas associativas.

Em 2011, e face à deterioração das contas do Clube, foi necessário enfrentar a necessidade de se extinguir a Sede da Rua da Boavista. Pese embora todas as ligações históricas existentes, o aumento dos custos da renda estavam a inviabilizar a manutenção daquele local, o qual, mercê das condições da sociedade actual, se estava a revelar completamente inútil. Efectivamente, ter um local onde as pessoas fossem aprender a construir sob a orientação de um instrutor, nomeadamente situado naquela zona da cidade, era situação do passado, sem qualquer hipótese de recuperação.

Várias tentativas de se encontrar outro local, por baixo custo, onde pudesse ficar uma simples sede logística, também se revelaram infrutíferas. Assim, foi tomada a decisão de abandonar a sede, o que só veio a concretizar-se no final de 2013. Situação, aliás, similar à de muitos outros clubes cuja sede vai sendo a residência de um dos seus dirigentes.

Esta corajosa decisão – sancionada em Assembleia Geral – foi tomada pelo então novo elenco de Direcção, baseado em Paulo Peres e Abel Coelho, embora contra a oposição de alguns elementos que, prontamente auguraram a “morte” do C.A.L.. Para esse passo decisivo a Direcção contou com o aval de elementos históricos, como sejam José Carlos Rodrigues (sócio n.º 2), Fernando Coelho e José Colarejo.

Passados que são já alguns anos sobre essa decisão, os benefícios são evidentes: Foi possível reduzir, de forma significativa, o valor das quotas dos associados e, concomitantemente, melhorar substancialmente a liquidez das contas do Clube. Do ponto de vista desportivo a actual equipa dirigente tem sabido dinamizar a realização de provas e encontros, bem como a admissão de novos sócios.

O C.A.L. tem pois todas as condições para prosseguir a sua missão!

Bibliografia:

– “Aeromodelismo” de José Carlos Rodrigues;

– Boletins do C.A.L.